é boa hora? perguntou-me. toda a hora é boa quando se tem tempo. entra. ele entrou. entrou e o tempo passou, sem se dar por ele. os ponteiros, que deviam marchar sincronizados no relógio, pareciam ter perdido a disciplina. se antes caminhavam lentamente, como se estivessem em missão numa floresta lamacenta, chuvosa, de ervas altas e de difícil penetração, desde que ele entrara, haviam mudado de universo e estavam agora a nadar na leveza do mar. por cada passo que davam avançavam por cinco braçadas em simultâneo, e navegavam todos os oceanos num só respirar. os ponteiros corriam sem se dar por eles, davam a volta às horas e nenhum de nós se apercebia. se não fosse a escuridão de que os olhos se começaram a queixar, poderíamos ter ficado ali até ao cair das folhas do próximo outono. mas a escuridão chegou, os olhos queixaram-se, o relógio regularizou e a conversa terminou. ele saiu, e a hora que estava a ser perfeita, voltou a ser boa. porque toda a hora é boa quando se tem tempo.
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