Monday, April 30, 2012

Maria Castanha sobre Maria de Jesus, aspirante a freira

Lembro-me de uma que aqui chegou, toda menininha. Católica dos pés à cabeça, desde o nome até à figura, trazia sempre um terço no bolso e uma imagem da Virgem. Coisa que eu achava imensa graça, porque virgens ali só mesmo a da imagem. E ela, provavelmente. Apareceu-me cá pela primeira vez, devia ter os seus 23 anos, mais coisa menos coisa. Ainda me passou pela cabeça se estaria interessada em juntar-se a nós, eu sei lá, podia ser uma daquelas com um estilo mais antiquado, mas tal ideia desfez-se em pó mal abriu a boca. Queria saber se podia deixar entrar a luz e transformar aquela casa numa casa de Deus. Numa casa de Deus, foram essas as palavras dela. Ai mãe, a vontade que me deu de rir. Tanto que deu, que soltei uma gargalhada como acho que não soltava há anos. Uma casa de Deus. Disse-lhe que não, que deus não morava ali e não se podia mudar, já tínhamos os quartos todos ocupados. O que era verdade, era uma noite especialmente agitada. Mas Deus quer entrar nesta casa, quer limpá-la dos pecados e torná-la cândida. Pediram-me na minha paróquia para vir aqui e.. Não ouvi mais. Agradeci-lhe muito lembrarem-se de nós na paróquia dela e mandei-a embora, até porque tinham chegado mais clientes e ela começava a incomodar-me. Nem quis ser rude, mas não ia ser o passatempo ou a caridade de ninguém. Nunca pensei que ela voltasse, mas três dias depois, lá estava ela, Maria de Jesus, aspirante a freira.        

2 comments:

http://2.bp.blogspot.com/-fUQ8fbl2110/Tqbs8_cB2cI/AAAAAAAAANs/iPfGlBcSoWg/s1600/livro+aberto.jpg said...

Incrível o poder da palavra de Deus junto dos que a querem receber, junto dos que o tempo e a fraca proximidade ao hoje permitem receber.

Um dia, e Deus me livre se esta história não é ficção, um rapazinho pequeno, com olhos castanhos, redondos e boca larga, descia uma colina perdido de sede. Encontrou um velho pastor, que lhe disse para continuar, seguro de que quando precisasse realmente de beber água, um tremendo diluvio caiaria dos céus para lhe molhar os lábios. Continuou seguindo o trilho mais seguro e que o chefe da sua aldeia lhe recomendara, passou por portas de pequenas casas sempre fechadas e por arbustos e por cearas que lhe escondiam a cintura, e por flores, e pelo fim da tarde e pelo luar e… e… finalmente o descanso. Estafado e desidratado olhou para o céu e perante um luar limpo acreditou que não necessitaria realmente de água. Focou com os seus olhos cansados a lua e disse: “se não fosses dona de uma beleza tão notória e incrivelmente envolvente, nem acreditaria que Deus existe”… fechou os olhos, fechou os olhos.

http://2.bp.blogspot.com/-fUQ8fbl2110/Tqbs8_cB2cI/AAAAAAAAANs/iPfGlBcSoWg/s1600/livro+aberto.jpg said...

(agora a história começou...

não a perca de vista.)