Wednesday, November 9, 2011

A dor

Deita-se na cama e as lágrimas começam a verter. Esconde a cabeça na almofada com o máximo de força que consegue: quer tapar a claridade, calar os ruídos da rua, fazer parar a insoportável dor de cabeça. A maldita dor de cabeça. Atira a almofada num impulso brusco para o chão. Enquanto um oceano lhe escorre pelo rosto, apercebe-se que tem a camisa encharcada. Tira-a e cobre-se com uma manta. Cerra os olhos e tenta alcançar a escuridão total, o silêncio absoluto e a cura para a dor de cabeça. Mas apenas vê imagens de carne viva e ouve gemidos de dor enquanto a sua cabeça explode aos poucos. Tenta abstrair-se, pensar em livros que leu, em músicas que ouviu, em sítios que viajou. Nada resulta. Apenas carne. Dor. Finalmente desiste e entrega-se ao choro.

Quando chegou a casa, encontrou a filha deitada na cama, com o rosto envolvido numa manta ensopada. Não respirava. A claridade já não irrompia pelas janelas. Já nao se ouviam ruídos vindos da rua. A dor de cabeça parara.

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