Sunday, December 11, 2011

A Olivia

A Olivia não tinha muitos sonhos, mas os sonhos que tinha eram sonhos a sério, não eram como aqueles sonhos que as pessoas sonham num dia e no dia seguinte já nem se lembram do que sonharam. Não, os sonhos da Olivia não eram desses. Desde pequenina, que um dos sonhos da Olivia era cantar. E cantar canções bonitas, não era cá cantar as porcarias que se fazem hoje, que toda a gente canta, ou melhor, nem canta gente nehuma, porque é tudo feito com efeitos e programas de computador. O sonho da Olivia era então cantar, mas só as canções bonitas. E cantava-as bem, por sinal. Um dia, ao pensar que ninguém a ouvia, até porque já era de noite e ela olhou para todos os lados mas não viu ninguém, a Olivia ia a percorrer a estrada a caminho de casa, e começou a cantar baixinho, e cantou e cantou, durante todo o caminho desde a mercearia até casa. Mas com tanta cantoria, esqueceu-se que só se tinha assegurado que não havia outros peões na rua passado um pouco de ter saído da mercearia, e agora que já tinha andado um bom pedaço, podiam haver outras pessoas no mesmo caminho que ela, e assim foi aumentando o tom de voz, até cantar num volume que qualquer pessoa podia ouvir. Enquanto cantava uma das suas canções bonitas, como aquelas de antigamente, não como estas de agora, a Olivia foi interpolada por um estranho de voz simpática, que lhe disse que se pudesse guardava a voz da Olivia numa caixinha para ouvir todos os dias antes de dormir. A Olivia assustou-se com a sombra da figura desconhecida, e foi a correr até casa. Ao abrir a porta, abraçou esbaforida a mãe, gritando que queriam raptá-la e guardá-la numa caixa por causa da sua voz. A mãe riu-se enternecida com os receios da pequena. Olivia, meu amor, ninguém te vai raptar... Com a tua voz até os anjos te queriam numa caixinha. 

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