Monday, November 22, 2010

Mãe

Nunca falei aqui sobre isto, nao sei bem porquê. Talvez por ser um assunto que não me agrade. Talvez por ser um assunto para o qual não tenho palavras. Talvez por não me saber expressar.

O facto é que é o tal assunto tem mudado a minha rotina, a minha perspectiva da vida, a minha maturidade, e, não digo mudar, mas evidenciar o amor e os laços maternais.

A minha mãe tem cancro.

Foi detectado já há uns largos meses, a mesma historia de sempre, sentiu um caroço no peito, exames, cancro. Para piorar, nao era um cancro normal. Era um tumor de desenvolvimento muito rapido, cresceu 4 cm em 10 dias (o tumor já tinha 7 cm aquando da operação, e so costumam operar até tumores de 3 cm sem não precisar de fazer antes quimioterapia). Primeira operação, foi removido um pouco da mama, analise desse pouco retirado, resultado: aquele pouco e a margem de segurança já estavam todas infectadas. Solução: uma segunda operação, esta mais complicada, peito todo para fora, recuperaçao dolorosa, etc etc.

Seguindo o periodo dificil da recuperaçao da segunda operaçao (a primeira tinha sido uma maravilha!), com todos os cremes para por na mama, o saco de enchimento para forçar o musculo a aumentar, soutiens que parecem um colete de forças para pressionar a parte operada, chegou a parte mais aguardada: a quimioterapia. Como o tumor era considerado muito perigoso e de crescimento muito rapido, são "doses" cavalares. Sessões de 4 horas (a primeira foi de 5h) de 3 em 3 semanas, idas ao hospital recolher sangue, e por aí.

Foi na passada Sexta-Feira a 3ª sessão da quimio, faltam outras 3. Está agora a passar pela fase dos horriveis 5 dias depois da dita sessão - cansaço extremo, dores no corpo, incapacidade de dormir, de estar sentada, de andar, de praticamente tudo.

É tão dificil ve-la, a ela, a minha mãe, sofrer desta maneira. É dificil ve-la com dores, ve-la mudar de posição de meia em meia hora porque nao consegue mais estar sentada com dores no corpo, é dificil tratar dela, fazer-lhe o jantar, deita-la, por-lhe cremes, dar-lhe comprimidos, ajuda-la a vestir-se, tapa-la, tirar-lhe a febre, e por aí.

É dificil dar-lhe os meus gorros para não ter frio na cabeça. É dificil ter tanto cabelo quando ela não tem nenhum.

Um dia, antes de estar careca, sonhou que já o estava, e que eu à noite lhe tinha escrito com um marcador na cabeça "Amo-te mãmã", e ela tinha gostado tanto que nao queria usar gorros nem perucas, e andava a mostrar a cabeça nua a toda a gente. Foi dificil não chorar.

É dificil, mas é apenas uma fase. Uma fase que, como disse, mudou a minha rotina, a minha perspectiva de vida, a minha maturidade, e evidenciou o meu amor e os laços que tenho com a minha mãe.


AMO-TE MÃMÃ!

2 comments:

Inês said...

Fizeste-me chorar Joana. Mas posdes apostar que estou aqui para tudo o que precisares. Adoro-te priminha <3

http://fotos.sapo.pt/ZGmiWOuzU6HmOZWnK0JN said...

Hoje dirijo-me a ti, Joana. Não falo para um imaginário que gosto em ti, mas sim directamente para o que só tu sabes que és.

Este texto está à quatro semanas e pouco para ser escrito. Logo que li o que produziste, apeteceu-me pousar a caneta e apagar a luz de onde te escrevo, ao perceber desde logo que não te conseguiria redigir nada tão consolador, encantador e terno, quanto aquilo que escreveste e que tu própria és capaz de ler.

Mesmo assim, este nada é para ti e para a tua Mãe:

Teceste ao longo da vida da tua Mãe, um bordado com as cores que ela mais gosta. Adoptaste-as como se fossem tuas, desenhando as formas que lhe ficariam melhor. Tecias e tecias sem, saber muito bem o quê e para que fim. A Mãe passava e ao ver-te no chão do quarto, de olhar sorridente e rosto fechado, nada te dizia, seguindo a pensar numa música, num cheiro ou num sabor.
Bordaste tanto, até que um dia saíste de casa, num duelo com o relógio, deixando ali mesmo todo aquele pano acolhedor.
O olhar macio da tua Mãe, uma vez mais, invadiu o teu quarto, mas desta, sem a tua imagem no interior. Entrou, e num passo de sedução todo aquele pano a atraiu levando-a a declinar-se devagarinho e num único e intenso abraço recolher todo o pano de cores, que tinhas produzido. Aquele abraço açambarcador contra o peito, foi capaz de faze-lo romper e preencher todo o seu coração.

Chegaste, sentaste-te no chão do quarto pegaste nas agulhas e no inicio da lã e fechaste o rosto, abrindo o olhar, para num começo de um recomeço.

Da tua Mãe agradeço-te