Era uma vez, num reino longíncuo, um castelo. Nesse castelo vivia um rei, uma rainha, trezentos e setenta e quatro criados, cento e noventa e dois vassalos, trinta e cinco mensageiros, setenta e quatro frades e uma princesa.
Era tambem uma vez, nesse mesmo reino longíncuo, um lenhador. Era um homem pobre, mas era tudo menos um pobre homem. Trabalhava de sol a sol para poder sustentar-se a si, à sua mulher e aos seus sete filhos. Inicialmente tinha treze filhos, mas seis haviam morrido por estarem mal nutridos e por trabalharem de mais, nos campos do rei. O lenhador tinha prometido a Deus que nao deixaria que mais nenhum moresse, mas, embora tivesse arranjado mais dois trabalhos, os rendimentos nem sempre chegavam a casa. Dos 14 reis que ganhava por semana, 7 eram para o palácio real, 2 para o senhorio da casa e apenas 5 lhe sobravam para poder alimentar a familia. A mulher tinha tido um acidente enquanto trabalhava na tecelagem e ficara inapta de realizar quaisquer tarefas remuneradas. Os seus filhos poderiam trabalhar, como todas as crianças do reino, mas o lenhador quis que estas fossem para a escola e aprendessem, para poderem ser "algo mais".
Um dia a princesa foi dar um passeio pelo campo. Viu os trabalhadores de pele morena, curtidos do sol, fazendo lhe lembrar os piratas das historias, e pensou "pobres coitados, tão mal vestidinhos".
Um dia o lenhador foi ao castelo. Viu os guardas bem vestidos e bem alimentados. Olhou para os seus proprios pés descalços, e invejou-lhes as botas.
Nos campos, velhos e crianças, todos em conjunto lavravam as terras e plantavam novas culturas.
No castelo, criadas e criados, todos em conjunto corriam apressados dum lado para o outro carregando consigo tijelas de porcelana, copos de vidro, castiçais de ouro.
A princesa voltou ao castelo, esqueceu os trabalhadores que vira e foi escolher entre os seus milhares de colares de perolas um que ficasse bem com o seu majestoso vestido. Era um ritual diário. Demorava três horas a vestir-se para o jantar. No jantar apenas estavam presentes o rei, seu pai, a rainha, sua mãe, e trezendos e dois criados dos trezentos e setenta e quatro. Os criados serviam os cinco pratos e ficavam encostados à parede, esperando que Suas Majestades terminassem a refeição. Era um ritual diário.
O lenhador voltou a casa, esqueceu os sapatos brilhantes dos guardas e foi abraçar a sua mulher. Era um ritual diário. Demorava cinco minutos a abraçar cada um dos seus sete filhos e dez a abraçar a sua mulher. Pôs o pão do jantar em cima da mesa de madeira. A sua mulher levantou-se e foi buscar os pratos de barro. Comeram pão com água e meia maçã cada um. Era um ritual diário. Foi pôr os seus filhos na cama, enquanto ouvia os seus pequeninos estomâgos a gritarem de fome. Era um ritual diário.
Olhou pela janela e viu o castelo ao longe, iluminado, sumptuoso. "Um dia, os meus filhos hão de ter também um castelo", pensou. Mas era apenas um ritual diário.
Era tambem uma vez, nesse mesmo reino longíncuo, um lenhador. Era um homem pobre, mas era tudo menos um pobre homem. Trabalhava de sol a sol para poder sustentar-se a si, à sua mulher e aos seus sete filhos. Inicialmente tinha treze filhos, mas seis haviam morrido por estarem mal nutridos e por trabalharem de mais, nos campos do rei. O lenhador tinha prometido a Deus que nao deixaria que mais nenhum moresse, mas, embora tivesse arranjado mais dois trabalhos, os rendimentos nem sempre chegavam a casa. Dos 14 reis que ganhava por semana, 7 eram para o palácio real, 2 para o senhorio da casa e apenas 5 lhe sobravam para poder alimentar a familia. A mulher tinha tido um acidente enquanto trabalhava na tecelagem e ficara inapta de realizar quaisquer tarefas remuneradas. Os seus filhos poderiam trabalhar, como todas as crianças do reino, mas o lenhador quis que estas fossem para a escola e aprendessem, para poderem ser "algo mais".
Um dia a princesa foi dar um passeio pelo campo. Viu os trabalhadores de pele morena, curtidos do sol, fazendo lhe lembrar os piratas das historias, e pensou "pobres coitados, tão mal vestidinhos".
Um dia o lenhador foi ao castelo. Viu os guardas bem vestidos e bem alimentados. Olhou para os seus proprios pés descalços, e invejou-lhes as botas.
Nos campos, velhos e crianças, todos em conjunto lavravam as terras e plantavam novas culturas.
No castelo, criadas e criados, todos em conjunto corriam apressados dum lado para o outro carregando consigo tijelas de porcelana, copos de vidro, castiçais de ouro.
A princesa voltou ao castelo, esqueceu os trabalhadores que vira e foi escolher entre os seus milhares de colares de perolas um que ficasse bem com o seu majestoso vestido. Era um ritual diário. Demorava três horas a vestir-se para o jantar. No jantar apenas estavam presentes o rei, seu pai, a rainha, sua mãe, e trezendos e dois criados dos trezentos e setenta e quatro. Os criados serviam os cinco pratos e ficavam encostados à parede, esperando que Suas Majestades terminassem a refeição. Era um ritual diário.
O lenhador voltou a casa, esqueceu os sapatos brilhantes dos guardas e foi abraçar a sua mulher. Era um ritual diário. Demorava cinco minutos a abraçar cada um dos seus sete filhos e dez a abraçar a sua mulher. Pôs o pão do jantar em cima da mesa de madeira. A sua mulher levantou-se e foi buscar os pratos de barro. Comeram pão com água e meia maçã cada um. Era um ritual diário. Foi pôr os seus filhos na cama, enquanto ouvia os seus pequeninos estomâgos a gritarem de fome. Era um ritual diário.
Olhou pela janela e viu o castelo ao longe, iluminado, sumptuoso. "Um dia, os meus filhos hão de ter também um castelo", pensou. Mas era apenas um ritual diário.
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