Maria sentou-se na sua cadeira de balouço, no alpendre de madeira. Recostou-se. Sentiu uma brisa vinda do mar. Cerrou os olhos e relembrou.
Ele deu-lhe uma flor. Era uma flor branca e, apesar de ser de papel, era perfumada. Naquele momento não lhe interessava se o cão estava a ladrar, se a casa estava a arder ou se o céu estava a cair. Apenas lhe interessava a flor e o seu cheiro suave, mas no entanto penetrante.
- Esta flor caracteriza-te - segredou-lhe ele - Tem a tua delicadeza, a tua beleza, o teu encanto. Este cheiro representa-te: intenso, contudo, suave. A cor simboliza a tua paz de alma, a paz em que vives e a paz que transimtes aos outros. - fez uma pausa - Não penses que te dei esta flor isoladamente por preguiça ou descuido. Não. Apenas não a quis banalizar, ser uma entre tantas outras. Quero que seja uma flor especial, única.
Ela olhou para a flor. Analisou-a de perto. Sentiu o seu aroma percorrer-lhe o corpo. Arrepio. Reparou detalhadamente nos promenores. Não havia falhas, era uma flor perfeita.
Olhou para cima e viu uns grandes olhos verdes a observa-la.
- Amo-te.
Agora, passados cinquenta e quatro anos, sentada na sua cadeira de balouço no alpendre da sua casinha amarela, olhou para a flor, e apesar desta estar quase desfeita e sem qualquer cheiro, ouviu na sua cabeça a voz dele:
- Esta flor caracteriza-te. Tem a tua experiência, a tua sabedoria. A cor simboliza a tua pureza, e a ausência de cheiro representa tudo o que já viveste e que te já é intrínseco. Representa a não necessidade de adornos e adereceços. Representa a maturidade. Representa o apogeu, a plenitude da vida.
Olhou para cima e viu o céu. Sentiu-se observada.
- Amo-te.
No comments:
Post a Comment